Dor. Dor. Dor e mais dor assolam esse peito frágil; esse corpo decadente, que já está exausto de tanto sobreviver, ainda é açoitado pelos chicotes da própria vida. Um único deslize e é o suficiente para enforcar, para sufocar tantas emoções em conjunto. Dói, dói tanto.
E não precisa ser um motivo plausível. Não precisa de uma justificativa. Ele apenas aperta, faz o corpo colapsar e o tortura com o ácido da ira. Tanta raiva e tanta dor que o corpo não é capaz de suportar. Entretanto, ainda procurando uma maneira de se livrar da dor do ácido do açoite, o corpo se rasteja procurando um remédio. Poderia ser qualquer coisa: álcool para esterilizar o ferimento, remédios para curar, um pano para estancar o sangramento… qualquer coisa. Ou, até mesmo, o corpo desiste e enfrenta a pior das opções.
Abre a ferida com as unhas. Morde a própria pele e a rasga como um animal. Chora de dor, mas seus gritos de profunda agonia são ouvidos por todos. Afinal, por que alguém tão ferido apenas abre seus machucados? A resposta é bem simples: quando você transfere a dor para outro lugar, a origem acaba diminuindo e o foco vai para outro ponto. O peito para de sufocar e doer, e as lágrimas que caem incessantemente finalmente encontram seu periódico fim, mesmo que por tão pouco tempo.
O corpo, mesmo já estando completamente ferido por si próprio e pelos outros, tenta parar de se ferir. Sabe o quanto de dor causa aos poucos que se importam com sua carcaça, com seu espírito. E pensar que estava se deleitando em leite de rosas no dia anterior… apenas para se chicotear impiedosamente, sem controle algum da própria vontade.
“O que é real?” Ele se pergunta, aos murmúrios, enquanto seus soluços e tremor se sobressaem no chão. “Por que?” Mesmo sabendo que nunca teria resposta, sua pequena confusão ecoava pelo ambiente. Não fazia sentido essa tortura continuar toda a vez que seu pulmão inalasse o pouco de oxigênio que custava para sua existência. “Onde está o erro? Por que sou assim? Teria como mudar? Mudar é doloroso. Como entender os outros? Não é justo. Nada é justo.” Sua voz, rouca de tanto gritar, os dentes sujos do tom escarlate que assombrava sua vida e a língua cansada estampavam seu cansaço. Ele só queria que tudo acabasse.
Ah, mas não acabará. A tortura é eterna. O açoite é eterno. As estacas que perfuram seu espírito de novo e de novo são eternas. Só deixarão este mundo quando consumirem o que desejam por completo. “É tudo inútil.” Ele diz, suspirando. “Eu nunca vou poder permanecer abaixo do céu azul e sentir o orvalho da manhã.” Por baixo de tantas lamúrias e pela tortura incessante, sua respiração se enfraquece. Está chegando ao seu limite, e ele deseja apenas morrer. Sabendo do seu próprio fim angustiando, o corpo estremece e ri, enquanto aguarda o próximo açoite atingir as suas costas impiedosamente. E a pior parte, você me pergunta? É que o corpo sofre sozinho. Seus gritos são ouvidos, mas ninguém é capaz de parar o torturador. Ninguém tenta salvá-lo, afinal, só ele existe naquele cárcere. Um destino cruel para uma alma tão sensível.
Eis que a cena impregnou minha mente…
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