Ela se encontrava, de novo, olhando-se para o espelho; sua imagem refletida, agora, finalmente completa, sem quaisquer riscos ou pedaços de vidro quebrados, a encarava de volta com um olhar em chamas. As chamas ardiam em lágrimas escaldantes que escorriam de suas bochechas inchadas.
“Eu não aceito isso, não aceito!” Ela pensava, sua ira despejando-se ao chão como um leite derramado. Ela sabia que não seria ouvida. Ela sabia que seu ódio não o atingiria. Ela sabia que a injustiça que sofria apenas ia piorar conforme crescesse, mas ela não aceitava. Ela lutava, queria fazer alguma diferença, mesmo que se desgastasse no processo.
Após anos e anos tentando consertar o espelho, e agora que finalmente o via inteiro em sua glória restaurada, ela sempre se encontrava observando o reflexo de suas emoções; o espelho revela tudo o que ela sente por dentro, o seu verdadeiro eu por baixo daquela casca limitada de onde esconde suas emoções. Ela sabia que não era perfeita, é o pecado do ser humano sempre falhar e aprender com seus erros. Um eterno ciclo. Mesmo assim, ela procurava.
“O que fiz de errado? Eu tenho quase certeza de que eu não o frustrei de novo.”, pensava enquanto procurava falhas no espelho, fracassando a cada tentativa. O espelho não mente, ele estava intacto e reluzente, mostrando-a, em todo o seu resplendor, sua verdadeira forma, mas ainda assim ela procura. Procura o quê? A aprovação do próximo? O que suas decisões tomadas anteriormente acarretaram? Ela não compreendia.
A cada ano que avança, a injustiça imposta nela aumenta. E não só nela; o espelho mostrava que vários outros, assim como ela, sofriam tal ira. Mas ela não queria desistir; queria fazer a diferença, mesmo que isso esgotasse suas forças naquele momento. Franzindo o cenho e fechando seus olhos, ela sentiu aquele vento cósmico assoprar na seda de seu vestido branco. Sentiu-o voar, algo materializava-se em sua mão, aquela que antes segurava seu coração frágil e brilhante ao relento, havia uma espada dourada. O cabo era coberto de farpas, machucava-lhe a palma ao segurar, mas, mesmo assim, ao aviso que as pontinhas davam à sua epiderme, ela o apertou.
Aquele sentimento não lhe era estranho, mas sabia de onde a espada vinha. Reconhecia sua força; ao fitar a lâmina com seu olhar marejado, via a palavra “Esperança” cravada no gume. Ela sabia que usá-la a machucaria, mas também sabia que a espada era uma das mais fortes que portava consigo. Abriu um sorriso em deleite à manifestação da sua força e se olhou no espelho. A imagem de uma guerreira agora refletia-se para ela, a mão pingando sangue e a lâmina da espada embutida de sangue. Ela sabia que faria uma diferença, mesmo que pequena, e isso, já acalentava seu coração inquieto.
*Devaneios é escrita por Isabelle Fernanda Bonini Medrade, escritora e aluna da Escola Estadual Zita de Godoy Camargo, de Rio Claro, SP.
Isa, parabéns pelo texto e pelo talento!
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Obrigada! Vou me esforçar pra escrever mais e mais à partir de hoje! 😄😄
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Parabéns Isa lindo texto desejo sucesso para vc 👏 bjs
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Obrigada! ❤❤❤
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