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Cabe as novas gerações romper com essa cultura patriarcal, diz Maria Lucia Karam

Inaugurando a nova temporada da série “CONVERSAS SÁBIAS” do Jornal do Camões, os alunos da Rede Camões, que envolve os alunos da Escola Estadual Zita de Godoy Camargo e do jornal filiado “Quincas Borbas” da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza, ambas de Rio Claro/SP, conversaram, de forma assíncrona, para a reportagem especial em comemoração ao dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher, com Maria Lúcia Karam, juíza de direito aposentada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, ex-juíza auditora da Justiça Militar Federal e ex-defensora pública no Estado do Rio de Janeiro.

Karam cita os desafios das novas gerações e comentou como foi ser juíza em um momento que o espaço era ocupado, majoritariamente, por homens.

O roteiro com as perguntas destinadas a entrevistada foi realizado pelos alunos Aline Nunes dos Santos (3ª B), Lukas Emanuell Carrera Silva (2ªC), Paulo Henrique Ferrazzoli (2ª C), Alex Rosin de Sousa Pereira (2ª B) e Ana Paula de Oliveira dos Santos (2ªB) da Escola Estadual Zita de Godoy Camargo. Da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza, Kauhan Sabino (1ªA) e Gabi Pinho (1ª C).

Entrevista com a juíza aposentada Maria Lucia Karam

CAMÕES: Com o dia das mulheres se aproximando e pensando em tudo o que ele representa, você acredita que no presente momento as mulheres conseguem, de forma igualitária, alcançar um alto cargo como o qual você ocupou quando comparado aos homens?

Maria Lucia Karam: Agradeço a oportunidade de estar aqui respondendo as perguntas dos alunos da rede Camões de Rio Claro, da Escola Estadual Zita de Godoy Camargo e da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza e, enfim, vamos a primeira pergunta que a Aline coloca.

Acho que, infelizmente, ainda não, quer dizer, o cargo que eu ocupei foi de juíza no Estado do Rio de Janeiro, na época que entrei, já tem muito tempo, foi no século passado, nos anos 1980 há praticamente 40 anos, eram muito poucas as mulheres juízas, mas com o tempo foram aumentando, aliás, na época, eu me lembro em São Paulo ainda não existia nenhuma mulher juíza quando ingressei na magistratura, mas com o tempo foram mais mulheres e hoje, com certeza, no Rio, as mulheres são a maioria dentre os juízes de primeiro grau. Por quê? Porque é mais fácil, sim, porque o ingresso na magistratura, a pessoa para se tornar juíza ou juiz faz um concurso e, com isso, as mulheres conseguiram entrar nos tribunais superiores ainda há muita desigualdade. Há muita dificuldade de acesso, basta ver que no Supremo Tribunal Federal, dos ministros que compõe o STF só duas são mulheres, enquanto na população as mulheres são mais da metade da população,então ainda há dificuldade sim, há desigualdade sim para o acesso a esses cargos.

CAMÕES: Você já passou por alguma situação onde foi inferiorizada em sua profissão por ser mulher?

[…] o que acontecia era que as pessoas se espantavam, as vezes não acreditavam que eu era juíza e advogada, pessoas que recorriam ao judiciário quando chegavam e se deparavam comigo achavam estranho…

Maria Lucia Karam: Bom, vamos a segunda pergunta, também a Aline pergunta se você já passou por alguma situação onde foi inferiorizada em sua profissão por ser mulher. Não, nunca passei não. Talvez tenha tido sorte, porque muitas mulheres passaram e ainda passam por preconceitos, discriminações nas suas atividades profissionais, eu como juíza efetivamente nunca sofri nenhum preconceito. A única coisa que existia era uma certa surpresa porque, como eu falei na primeira pergunta, eram poucas mulheres ainda, e além de tudo, eu era bem jovem e ainda tinha uma aparência mais jovem ainda. Já tinha trinta e poucos anos, mas parecia ter menos e também não me vestia como as pessoas esperavam que um juiz se vista, me vestia de uma forma mais descontraída. Então, o que acontecia era que as pessoas se espantavam, as vezes não acreditavam que eu era juíza, pessoas que recorriam ao judiciário quando chegavam e se deparavam comigo achavam estranho, não tinha cara de juiz, mas é só isso, só um certo espanto, mas preconceito efetivamente acho que tive a sorte de não sofrer nenhum.

CAMÕES: Por que ainda existe, na mente das pessoas, uma diferença entre homens e mulheres? E como combater isso?

Maria Lucia Karam: Na verdade são séculos de desigualdade, séculos de predomínio de uma cultura patriarcal que via a mulher como inferior, como objeto, como destinada simplesmente a procriar e a cuidar dos filhos e cuidar da família, fomos avançando muito com o tempo, as mulheres foram cada vez mais saindo de casa, trabalhando, ocupando funções e profissões que antes eram vistas como masculinas, inclusive no campo político, no campo de governo. Aliás, os países que tem tido o melhor desempenho nesse problema tão grave que estamos enfrentando de pandemia são os países governados por mulheres como por exemplo a Alemanha e a Nova Zelândia.

São séculos de predomínio de uma cultura patriarcal que via a mulher como inferior, como objeto, como destinada simplesmente a procriar e a cuidar dos filhos e cuidar da família […]

Mas esses avanços ainda não são suficientes, há muito a avançar, ainda há desigualdade nos salários, desigualdades nas oportunidades, desigualdade nessa ocupação de cargos públicos, as mulheres ainda são exceções como governantes… Nos Estados Unidos, como por exemplo, é a primeira vez que há uma mulher vice-presidente, mulher presidente nunca houve, então, há muito o que avançar, no sentido de uma plena igualdade, cabe principalmente a vocês das novas gerações romper definitivamente com essa cultura patriarcal, essa cultura de desigualdade e fazer isso em todos os momentos, repelindo qualquer manifestação de desigualdade em todos os lugares, nas suas casas, na escola, quando estiverem mais velhos, quando forem trabalhar, enfim em todos os lugares sempre mostrar que as pessoas são iguais, nascem iguais e devem ser respeitadas, tendo suas oportunidades garantidas de forma igual sem quaisquer discriminações.

CAMÕES: Qual recado que você deixa aos alunos da rede pública de ensino?

A educação é um direito fundamental, é um direito que tem que ser garantido a todas as pessoa, e lutar para preservar a escola pública e para fazer dela uma escola cada vez melhor é fundamental

Maria Lucia Karam: Em primeiro lugar, o primeiro recado é o de defender e fortalecer sempre o ensino público gratuito e pleitear sempre um ensino público gratuito de qualidade. A educação é um direito fundamental, é um direito que tem que ser garantido a todas as pessoa, e lutar para preservar a escola pública e para fazer dela uma escola cada vez melhor é fundamental desde a exigência que se deve fazer aos professores de dedicação e de preparo mas também por parte dos alunos, fazer a sua parte, estudar com muita vontade e com muito empenho. Além disso, o segundo recado que eu dou é aproveitar o conhecimento que vem da escola e que vem do estudo, que vem das oportunidades de exercer esse direito de aprender, usar esse conhecimento para lutar por um mundo melhor, para lutar por um mundo em que todas as pessoas sejam igualmente respeitadas, sejam tratadas de forma igual, tenham as mesmas oportunidades de terem uma vida confortável, essa luta por um mundo melhor que depende de vocês, jovens dessas novas gerações é fundamental para que possamos ter sociedades mais justas em que todas as pessoas tenham condições satisfatórias de sobrevivência e tenham maiores oportunidades de ser felizes, mais uma vez agradeço a oportunidade de estar falando para vocês estudantes.

Reportagem e texto por Aline Nunes dos Santos (3ªB)

#19 – Entrevista com Antonio Archangelo Jornal do Camões

Entrevista feita por Uesley Eduardo e Eduardo Stecca, alunos da 2ªC, da Escola Estadual Zita de Godoy Camargo, pelo Jornal do Camões, com o professor de Língua Portuguesa e criador do Método Camões, Antonio Archangelo.
  1. #19 – Entrevista com Antonio Archangelo
  2. #18 – Relatos discentes sobre o Método Camões
  3. #17: Entrevista com Rafael Cristofoletti Girro, editor-chefe da Revista do Camões
  4. #16: Reportagem sobre drogas nas escolas
  5. #15: Escola Heloisa Lemenhe Marasca, celeiro do esporte

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Categorias Cidadania, Comunidade, Conversas SábiasTags , , , ,

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